sábado, 10 de novembro de 2012

Resenha do livro O diretor e as avaliações praticadas na escola

Resenha do livro O diretor e as avaliações praticadas na escola, por Vânia Leila Nogueira. O Diretor e as avaliações praticadas na escola (Editora Kiron, 2012, 218 páginas) do professor Dr. Erisevelton Silva Lima, prefaciado por Benigna Maria de Freitas Villas Boas, aponta elementos importantes da práxis pedagógica. O autor anuncia que o livro constitui parte da tese de doutorado e a escrita do seu trabalho pauta-se na reflexão, bem como na sua história de vida pessoal, acadêmica e profissional. Salienta que essa história constituiu o interesse em pesquisar o diretor de escola, e a avaliação como categoria complexa vinculada à prática do diretor na escola nos seus três níveis: avaliação da aprendizagem, avaliação institucional e avaliação de redes ou em larga escala. Outras categorias como conselho de classe, coordenação pedagógica perpassam a obra. O capítulo 1” Da Trajetória Pessoal à Profissional: O Encontro com o Objeto de Pesquisa”. O autor relata sua trajetória pessoal e profissional e como esse percurso possibilitou o encontro com o objeto da pesquisa. Toma como referência a diretora da infância e relaciona por meio dessa representação os aspectos constitutivos da formação do diretor, suas atribuições e perfil para a gestão da escola. Compartilha sua experiência de gestor, formador de gestores e coordenador do curso Progestão - DF. Destaca o cenário político e as modificações ocorridas na Educação do Distrito Federal. Discute sobre o papel do diretor de escolas e a Gestão Compartilhada no Distrito Federal. Traça um panorama do sistema de ensino do Distrito Federal e da distribuição desigual de escolas entre as modalidades de ensino fundamental com uma entrada numerosa de alunos e significativa retenção e de outro lado o ensino médio menor, não apenas em quantidade de alunos, mas em número de escolas. O Autor questiona esse ponto de estrangulamento e sua relação com as práticas avaliativas e a aposta na cultura do fracasso escolar. Analisa os processos de indicação de diretores da década de 90 e a lei nº 4.036/2007, que estabelece relações e responsabilidades da equipe gestora no que tange aos processos avaliativos da instituição escolar. Aborda As Diretrizes de Avaliação, O Regimento das Escolas Públicas do Distrito Federal e as Diretrizes Pedagógicas da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Os referidos documentos oficiais são orientadores e normatizadores do processo avaliativo na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Numa análise cuidadosa indica aspectos a serem refletidos e analisados, bem com aponta questões ainda insolúveis: a contradição entre a avaliação formativa e as notas, o papel do diretor, os critérios de avaliação e sua transparência, a participação dos estudantes no processo avaliativo, os três níveis da avaliação e sua devida articulação. O autor finaliza o capítulo com a questão norteadora da pesquisa: Qual a percepção e decorrentes ações do diretor de uma escola dos anos finais do ensino fundamental acerca das práticas avaliativas que nela ocorrem, nos níveis da aprendizagem, institucional e de larga escala? No capítulo 2 “O Diretor de Escolas e a avaliação em seus três níveis”. O autor apresenta o referencial teórico utilizado como construção para os conceitos, reflexões e análises realizadas ao longo da pesquisa. Organizado por temas. O autor resgata historicamente as primeiras indicações previstas no Decreto Federal nº 1.331 - A, de 17 de Janeiro de 1854, e a exigência de formação para a Administração Escolar para todos os níveis com a Lei Federal nº 5.540/68, bem como a cultura da indicação para o cargo de diretores de escola, e outras formas mistas como concurso, eleição e ou junção dessas. Traça uma análise do caso do Distrito Federal citando a Lei da Gestão compartilhada, que vincula aos índices e aos resultados de exames internos e externos os indicadores da qualidade da gestão da escola pública da SEDF. SAEB, IDEB e o SIADE (Sistema de Avaliação Local) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nesse paralelo discute a formação do diretor como elemento crucial de sua análise. E afirma que a avaliação como tarefa do professor na sala de aula não exime o diretor de estudar e planejar com os docentes os processos avaliativos, pois isso diz respeito ao projeto político pedagógico da escola. É necessário pensar por meio da formação desse profissional outra concepção de diretor para as escolas, em especial a pública. O autor destaca o papel da avaliação formativa, o conselho de classe e o uso da autoavaliação mediados pela atuação desse novo diretor de escolas. Aponta que “O diretor em questão requer certa orquestração e empenho com sua equipe de trabalho. Deve ser um articulador competente e compreender o papel decisivo da avaliação no processo pedagógico”. Enfoca que nessa empreitada exige-se esforço coletivo e não é possível mudar sem consenso ou negociação. Alerta que o docente possui espaços de autonomia em que nem mesmo as melhores políticas públicas poderão atingir seus objetivos, caso o docente não permita ou não acredite nelas. A avaliação formativa pode estar a serviço de todos os níveis da avaliação (aprendizagem, institucional e de larga escala). Não é o nível da avaliação que define sua função, mas o propósito ou objetivo que se pode fazer deles. O cenário dos obstáculos e dificuldades para a realização da avaliação formativa como a lógica de espaço – tempo da escola outra questão apontada é a disciplina. Ao observar esses marcos divisores de tempos e datas, as instituições escolares cumprem com normas legais, quase sempre em detrimento das aprendizagens dos estudantes. Diante dessas dificuldades o autor aponta o Conselho de Classe como espaço para reflexões e tomadas de decisão em favor da avaliação formativa e o papel do diretor sob prisma ético, regimental e pedagógico acompanhar as reuniões dos conselhos de classe. O conselho de classe merece atenção por ser ao mesmo tempo espaço da avaliação em seus três níveis, assim como espaço de deliberações administrativas e pedagógicas que podem modificar o rumo das ações e das vidas dos estudantes na instituição escolar e até fora dela. E alerta para as questões corporativas bem como que esse coletivo não confunda autonomia com soberania. A discussão da avaliação e compreensão dos espaços por onde transita e se articula tornou-se uma tarefa essencial para que esse diretor possa conduzir o processo de organização do trabalho pedagógico na escola. O autor propõe a utilização da autoavaliação como possibilidade de cada um dos envolvidos reconhecer-se no processo pedagógico do conselho de classe. Compreender a autoavaliação como um processo que precisa desencadear resultados internos que farão modificar estruturas na mente de quem a realiza. O diretor de escolas comprometido com um projeto de avaliação formativa que se articula com o currículo e com a proposta da escola deve desenvolver com sua equipe esse forte componente de gestão pedagógica. Trabalhar com a avaliação formativa na educação básica, tendo como um dos procedimentos a autoavaliação, requer que se acredite na capacidade dos estudantes compreenderem e participarem do planejamento, da aula e do que seja avaliar. A autoavaliação é um processo que demanda tarefas para toda a escola, inclusive para seu diretor. Adverte sobre os tarefismos que divorciam a equipe gestora do cuidado com a avaliação e o currículo. Cita a Resolução nº 7, de14/12/2010 do Conselho de Educação sobre a inseparabilidade de currículo e avaliação. E alerta se a instituição é um corpo físico dotado de uma estrutura estática, seu projeto e seu currículo representam sua alma e sua dinâmica. A concepção e a visão tradicional do currículo como uma sequência de conteúdos que devem ser vencidos e cobrados por meio do acompanhamento constante dos processos avaliativos e das abordagens curriculares praticadas na escola porque neles residem elementos subjetivos que, se não forem utilizados com propósitos formativos, levarão às práticas classificatórias que, por si só, manifestam o caráter da segregação e da exclusão. O professor Erisevelton lembra que currículo é a escola, sua origem, seus dilemas e seus desafios. E que o coletivo da organização precisa ser convidado a pensar juntamente com o diretor tais desafios. Especialmente os que envolvem o currículo, o projeto da escola e a avaliação. Discute sobre o diretor e sua vinculação com os exames externos. A avaliação em larga escala compreendida como uma maneira de acompanhar o desempenho dos sistemas de ensino. E como objetivo ofertar subsídios para dar suporte às políticas públicas, bem como oferecer por meio de dados e informações significados ou ressignificados à luz da avaliação institucional. Historiciza as avaliações em larga e como chegaram às instituições de ensino em 2005, por meio da Prova Brasil ou Avaliação Nacional da Rede Escolar ANRESC. Esclarece que, embora importante, a ANEB não cumpre as mesmas finalidades da Prova Brasil, pois é por meio da Prova Brasil a elaboração do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O autor descreve por meio de vários autores os motivos e as intenções do estado muitas vezes adotadas pela lógica dos organismos e projetos internacionais para pensar a avaliação em larga escala. Sinaliza os desdobramentos dessa avaliação e equívocos criados para a sociedade, bem como divulgação pela imprensa de um ranqueamento, em que a opinião pública toma tais informações como suficientes para classificar ou desclassificar uma escola, seus profissionais, os estudantes e toda uma rede de ensino. Afirma que a avaliação das escolas e dos sistemas no Brasil resume-se em duas vertentes a primeira é de linha positivista e quantitativa e a segunda busca um paradigma qualitativo. A avaliação de redes ou sistemas que se faz representar no sentido de cumprir com a prestação de contas à sociedade resvala no fundamento em que se apoia: o ideal quantitativo da questão. Outro dificultador é a descontinuidade da realização dos exames e das políticas, tratamento dos dados da avaliação e a desarticulação dos que pensam tais processos. E como complicador os dados não são articulados, tratados e ou organizados, no interior da instituição. O autor ao concluir esse tópico afirma que avaliar é um desafio eivado de possibilidades, mas dada a ausência de uma avaliação ideal, retoma como urgência a autoavaliação. A avaliação em larga escala no Distrito Federal denominada Sistema de avaliação do Desempenho das Instituições Educacionais dos Sistemas de Ensino do Distrito Federal (SIADE) criado e implantado após a criação da Lei de Gestão Compartilhada, Lei nº 4.036/07. A referida lei determina para o diretor um termo de compromisso com a melhoria dos índices. O decreto distrital nº. 29.244/08 determina os objetivos do SIADE, e os quatro processos de avaliação. Para a realização do SIADE em 2008, foram realizadas matrizes de competências e protocolos de observações, conforme o currículo da SEDF. Para compreender onde se insere o SIADE no contexto avaliativo e os reflexos desse nível de avaliação, lembrar que o mesmo faz parte do Termo de Compromisso da Gestão Compartilhada, firmado entre a SEDF e a equipe diretiva da escola. O SIADE é complementar e indissociável de uma política pública maior, e seus resultados elaboram o Índice de Desenvolvimento da Educação do Distrito Federal (IDDF) A SEDF adotou um sistema similar ao utilizado para o cálculo do IDEB. O autor analisa os textos oficiais que orientam o referido cálculo, bem como o dispositivo que outorga a responsabilidade pela análise qualitativa dos elementos que constituirão o bom ou mau desempenho da equipe de direção de cada escola para uma coordenação de avaliação própria da SEDF. O mesmo não se atribui aos diretores regionais de ensino, nem os responsáveis por setores estratégicos da própria SEDF. O elemento positivo da SEDF foi não usar a comparação na sua metodologia. O autor aponta questões importantes como: outra lógica de avaliação e financiamento que custeie a formação, construção dialogada e negociada do conceito de qualidade, metodologia participativa, necessidade da articulação competente de um diretor e sua equipe, produção de relatórios diversificados que atinjam públicos distintos. A sugestão reside em um indicador a partir da junção da qualidade educacional com a qualidade social e o acompanhamento de egressos. O autor recomenda a avaliação institucional para balizar os dois níveis (da aprendizagem e o de larga escala) e potencializar os processos pedagógicos da instituição escolar. .No Distrito Federal, nos anos de 2008 e 2009, foram reservados no calendário dias específicos para a avaliação institucional. O autor descreve como foi esse processo na rede e sua experiência no Progestão e pano de fundo da avaliação institucional. O autor analisa aspectos da avaliação institucional como nível ainda desconhecido e pouco aplicado na educação básica, especialmente na realidade brasileira, o conceito de qualidade, comprometimento entre a escola e o estado, bem como a garantia da educação cidadã de boa qualidade. No entanto, o autor alerta sobre os riscos desse processo, pois a avaliação sempre esteve submetida à lógica mercantil. A avaliação institucional precisa ser compreendida como um processo complexo e híbrido porque entrelaça ações individuais e coletivas. A escola pública sofre interferências de toda ordem e não que objetivos cumprir. O Autor discorre sobre a Avaliação Institucional Formativa, pois o fato de ser institucional não garante os efeitos formativos. Esse nível de avaliação requer uso articulado, processual e sistemático de ações e consonância com os outros níveis da avaliação. A avaliação no nível da aprendizagem institucional ou de redes só servirá a seu maior propósito que é conduzir ao sucesso das aprendizagens caso seja ética e, sobretudo, não seja desencorajadora. O Capítulo seguinte “A Bússola, A Lente e a Caminhada: Um estudo de caso do tipo etnográfico”. O autor descreve seu percurso metodológico, enfatizando a dinâmica do cotidiano vivenciado na escola. O estudo de caso do tipo etnográfico foi o que mais se adequou ao objeto. Segundo o autor a ideia foi tornar-se de fato um membro do grupo e não um corpo estranho. O estudo de caso do tipo etnográfico requereu uma imersão maior no campo, mais tempo com os sujeitos, mais tempo para pensar. Também permitiu dar voz a eles.O sujeito partícipe e principal interlocutor foi a diretora de uma escola de anos finais do Ensino Fundamental da SEDF. Contudo procurei valer-me de outros profissionais da escola como coordenadores pedagógicos, supervisor, docentes e os estudantes da instituição para compor o cenário da pesquisa. O autor descreve suas escolhas pelos sujeitos de pesquisa e os critérios adotados. E aponta como fator decisivo o desafio aceito pela diretora da escola de produção dos registros reflexivos. Os registros reflexivos produzidos demonstram de maneira clara o entendimento e o avanço conceitual dos interlocutores no campo da avaliação. A descrição sobre essa escolha e as decisões metodológicas são mencionadas e fundamentadas. Sobre a observação participante afirma que especialmente em um estudo do tipo etnográfico, requereu a reeducação do seu olhar na condição de pesquisador. Capítulo 4 “Mosaico de Práticas e Entendimentos sobre a Avaliação em seus três níveis na Escola do Andor”. Neste item são apresentados os dados da pesquisa. As análises foram realizadas por meios das três categorias: a avaliação da aprendizagem, avaliação institucional e a avaliação de redes ou de larga escala. O autor descreve e detalha toda a dinâmica da pesquisa, bem como a descrição da Escola do Andor. Metáfora utilizada pelo autor. Descreve sua estrutura física e o quantitativo dos profissionais da instituição. E traça o perfil da diretora da escola. A análise está centrada nos diários reflexivos da diretora e da coordenadora Alfa. Os registros reflexivos apontaram os significados e as incompreensões sobre os níveis de avaliação e revelaram aspectos a serem tratado pela escola no nível da avaliação das aprendizagens como a recuperação paralela ou contínua, o dilema o administrativo versus o pedagógico, a participação do estudante no processo de construção da avaliação, a prova como instrumento de avaliação e a formação em serviço. O autor revela que os registros reflexivos foram valiosos, mas buscou estratégias para ampliar sua lente de análise sobre a dinâmica da escola, bem como as nuances da organização do trabalho pedagógico da Escola do Andor. Uma questão relevante da pesquisa como parte integrante do projeto político pedagógico a formação em serviço realizada pelo pesquisador em questão, e que um dos achados dessa formação foi a avaliação informal praticada e por meio da formação reconhecida pelos docentes. Os projetos e iniciativas da escola como parte da avaliação da aprendizagem são descritos e analisados pelo autor com seus avanços e recuos. Pois são marcados segundo o autor pelas ausências dos docentes, descontinuidade do trabalho pedagógico, e o descompasso entre o desejado e o planejado. Na perspectiva da avaliação da aprendizagem o autor analisa o conselho de classe como categoria que perpassou todas as categorias de análise da pesquisa. Nessa análise destaca o julgamento moral, práticas de classificação e comparação, uso da avaliação informal, “apartheid pedagógico”, o regime de dependência como adiamento da aprendizagem, currículo e avaliação e os valores inculcados pela escola. Em relação à avaliação institucional o autor relata com propriedade detalhes sobre avaliação institucional realizada pelo Distrito Federal por meio as Secretaria de Educação e o jeito próprio da escola de fazer independente da orientação governamental. Destaca os desafios da avaliação institucional, bem como a incompreensão de todos os segmentos construída historicamente. E afirma que na Escola do andor, a avaliação institucional tem no Conselho de Classe seu maior procedimento de mediação. Em relação à avaliação de larga escala a trajetória da escola é marcada pelos resultados da Prova Brasil 2005, a escola foi exposta por meio da imprensa, e a matéria caracterizava a escola como uma das “piores” da unidade da federação. Esse fato criou na escola várias situações e sentimentos constados e analisados pelo autor. E as repercussões dos dados da Prova Brasil com a avaliação do SIADE. Questões como ranqueamento, reponsabilização, controle e regulação, meritocracia, divisão do trabalho manual e intelectual, a fragmentação/desqualificação do trabalho docente e controle hierárquico apontaram a análise do auto. A descrição de rituais cristalizados e uma análise do contexto da escola e a estratégia de aproximação com os estudantes para ampliar a compreensão sobre a organização do trabalho pedagógico foram descritos em detalhes. O espaço da coordenação pedagógica foi, além do conselho de classe, outro local privilegiado para promover o encontro entre os três níveis de avaliação na escola investigada. Como constatação sobre o diretor e as avaliações praticadas na escola o autor afirma: Ao diretor de escolas cumpre, sobretudo, promover o encontro, o debate e a orquestração dos temas que mobilizam a organização do trabalho pedagógico na escola. Se o mesmo terceirizar ou delegar esta tarefa, correrá o sério risco de perder seu poder de diálogo e sua autoridade diante do coletivo da instituição.

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