domingo, 11 de setembro de 2011

Resenha do livro A dimensão dialógica da avaliação formativa

Resenha
Marilene Pinheiro
BATISTA, Carmyra Oliveira (org.). A Dimensão Dialógica da Avaliação Formativa. Jundiaí, Paco Editorial, 2011.
RESENHA
A dimensão dialógica da avaliação formativa é abordada nesse livro como a comunicação que se instaura no espaço pedagógico, que qualifica as relações entre os sujeitos envolvidos no processo educativo”. Nessas relações, podemos compreender que a avaliação formativa se concretiza em práticas, instrumentos, procedimentos, em interação entre aqueles que compartilham os espaços escolares. As práticas avaliativas abordadas nesse livro são apresentadas como possibilidades de transformação da prática pedagógica, rompendo com uma concepção autoritária em que o professor é o único que decide os rumos do trabalho pedagógico no cotidiano escolar. Dá espaço para um ensino democrático em que os estudantes também possam participar da tomada de decisões. Isso implica diálogo permanente entre estudantes e professores.
Dividido em quatro capítulos, os autores discorrem em primeiro lugar sobre a Avaliação e Comunicação em que se aponta que a concepção formativa é a que promove interação e comunicação. Comunicação esta constituída por uma mensagem intencionada que socializa e respeita tipos diferenciados de entendimentos e de aprendizagens. A avaliação formativa dá sentido ao trabalho pedagógico e torna esse espaço em lugar democrático e de tomada de decisões por parte de professores e estudantes.
Ainda com ênfase na interação, o segundo capítulo apresenta o Conselho de Classe como construção de um espaço de avaliação participativa privilegiando o diálogo entre os sujeitos escolares. Os autores contextualizam o Conselho de Classe quando foi instituído em uma perspectiva classificatória, excludente e burocrática. O Conselho de Classe participativo vem romper com essa perspectiva tornando-se uma instância avaliativa aberta à participação de todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Nessa ótica, o Conselho de Classe assume um papel importante na organização do trabalho pedagógico. Relata-se uma experiência de Conselho de Classe participativo ocorrida em uma turma de 5ª série (6º ano) no ano de 2006 em uma escola pública do Distrito Federal. Os Conselhos de Classe eram precedidos dos “Pré-Conselhos”, que consistiam em reuniões coordenadas pela orientadora educacional. Ao entrar em cada sala, a orientadora educacional explicava aos alunos os objetivos do Conselho e os orientava a fazerem uma avaliação geral do trabalho da escola abordando os aspectos positivos e negativos de cada segmento: professor, aluno, direção, serviço de orientação educacional, sala de apoio, secretaria, portaria, cantina, limpeza, etc. A partir dos pontos levantados, os alunos produziam um texto coletivo que era levado ao Conselho de Classe pelo representante da turma. O aluno representante apresentava o texto coletivo e anotava os comentários de cada professor. Com essa prática, os alunos eram inseridos nas discussões pedagógicas. O Conselho de Classe participativo traz um grande desafio para a escola que é a inclusão dos alunos na organização do trabalho pedagógico tornando-os sujeitos do processo educativo.
O capítulo seguinte é dedicado aos Registros Avaliativos, que estabelecem uma relação dialógica na rotina da escola e fazem parte da prática do professor. Os autores definem “registrar” como uma maneira de informar qual foi o nosso olhar sobre uma dada realidade existente, observada e/ou vivenciada. Do ponto de vista avaliativo, “registrar” seria estabelecer a concepção de educação na qual esse registro está fundamentado e quais intencionalidades permeiam o ato de registrar. De acordo com a intencionalidade, os registros podem se inserir em uma perspectiva formativa ou não, sendo também portadores de práticas cristalizadas na avaliação. Os Registros Avaliativos, uma vez que carregam consigo a função de legitimar/documentar o sucesso ou fracasso do estudante, devem ser feitos de forma ética e com bastante cuidado. São apresentados alguns fatores que podem contribuir para aumentar a resistência do professor com relação ao uso do registro e dificultar a fidedignidade dos mesmos, como a burocratização do trabalho do professor (registros burocráticos, estatísticas) e formulários a serem preenchidos que não chegam às escolas no tempo devido. Apesar desses fatores apresentados, é importante considerar que os registros na sala de aula trazem grande contribuição para o acompanhamento do trabalho pedagógico realizado e para a promoção do diálogo entre professores, alunos e familiares.
O último capítulo aponta diversos instrumentos/procedimentos avaliativos, tais como, prova, entrevista, avaliação por colegas, observação, portfólio, autoavaliação, entre outros. Todos esses instrumentos foram abordados dentro de uma dimensão dialógica e coerentes com uma avaliação formativa, ou seja, comprometidos com as aprendizagens de todos, cabendo ao professor escolher bem os instrumentos e procedimentos e fazer bom uso dos resultados para que, de fato, a avaliação seja um momento de crescimento para todos. Só assim, a avaliação estará cumprindo seu verdadeiro papel que é o de contribuir para a continuidade da aprendizagem no ambiente escolar.
O livro interessa a educadores em geral, pois traz reflexões sobre práticas avaliativas comprometidas com a aprendizagem dos alunos, e em particular, àqueles que pretendem contribuir com uma escola de melhor qualidade, pois oferece alternativas para que a avaliação deixe de se basear na ótica da exclusão, para inserir todos os que nela se encontram. Ajudar o professor a refletir sobre a dimensão dialógica da avaliação escolar e entender que a avaliação formativa é fundamentada no diálogo, permitindo-lhe aceitar os diferentes caminhos seguidos pelos diferentes estudantes para melhor compreendê-los e atuar pedagogicamente, é a maior contribuição dessa obra.